Descaso com PRF afeta a segurança na fronteira

Descaso com PRF afeta a segurança na fronteira
Sem blindagem em vidros, servidores federais ficam na mira de bandidos em rodovias.

Posto PRF com o Telado caindo.

Pela proximidade com a fronteira, as rodovias da região Oeste do Paraná são usadas como importante rota de grandes quadrilhas do crime organizado de todo o País. Por elas passam principalmente drogas distribuídas no Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil. Em trechos bastante conhecidos, os traficantes e os contrabandistas desafiam a segurança pública e enfrentam como barreira defasados postos rodoviários.

A falta de conservação em estruturas da PRF (Polícia Rodoviária Federal) evidencia o descaso com o setor e deixa servidores públicos em risco. A maioria dos postos paranaenses foi construída há mais de três décadas. São prédios antigos e inapropriados à atividade policial.

Um dos casos mais graves está no posto da BR-163. A movimentada rodovia liga Santarém, Pará, a Tenente Portela, Rio Grande do Sul. São 3,4 mil quilômetros de extensão. O corredor é usado principalmente por carretas que transportam toneladas de grãos e derivados aos portos paranaenses e catarinenses. Embora tenha uma significativa importância, a fiscalização acaba comprometida, principalmente no trecho do Paraná.

ALVO DE BANDIDOS

Em Lindoeste, onde fica um dos poucos postos da rodovia, o prédio está em avançado estado de deterioração. Na pista, cones estão espalhados em frente da estrutura. A sinalização é bastante deficitária. A fechada não possui pinturas que remetem ao policiamento e os inspetores de tráfego ficam no alvo ao ataque de quadrilhas. Os vidros do posto são transparentes e não possuem sistema de blindagem, em caso de troca de tiros devido a possíveis retaliações por parte de criminosos.
A demonstração de patriotismo há muito foi deixada de lado. Os mastros não possuem qualquer bandeira hasteada. “De noite a situação fica mais complicada. As luzes ficam acesas e como não há películas escuras nos vidros, quem trafega pela rodovia consegue ver onde e quantos policiais estão de plantão”, ressalta uma fonte que terá a identidade preservada pela reportagem.



TELHADO CAINDO

Em Guaíra, fronteira do Brasil com o Paraguai, a deficiência estrutural está no posto da BR-272. O prédio da PRF está literalmente caindo aos pedaços. Parte da estrutura teve que ser desativada e a em uso apresenta graves falhas. Um telhado chegou a cair e não foi consertado. O ar-condicionado quebrado deixa os policiais expostos ao calor escaldante da cidade.

O trecho é estratégico para o crime organizado. O município é bastante conhecido pela existência de portos clandestinos ao longo do Rio Paraná. Prevendo a fiscalização na Ponte Ayrton Senna, onde há um posto avançado da PRF, os criminosos utilizam percursos estratégicos, como o lago. “Os policiais ficam em uma área bastante estratégica. É o local em que passam veículos roubados com frequência. Também há uma grande circulação de contrabandistas que saem do lago e vão para outras cidades”, diz mais um inspetor.
A estrutura não possui identificação policial. Em vez de azul e amarelo, cores padrões da corporação, o prédio está pintado de verde claro. A decadente estrutura está embasada na expectativa da construção definitiva. A 7ª Superintendência da PRF do Paraná pretende construir uma nova sede para a 6ª Delegacia Regional de PRF e da Unidade Operacional, na BR-272. A estrutura terá 979,29 metros quadrados, a um custo de R$ 3.109.384,27. Apesar do processo, não há previsão para o início das obras.

VULNERABILIDADE

A estrutura deficitária é compartilhada com estados vizinhos ao Paraná. Em Mundo Novo, Mato Grosso do Sul, os inspetores tiveram veículos particulares incendiados, em julho do ano passado. Dois carros estavam estacionados em um posto da PRF, que ficou sem inspetores, pois os dois servidores federais estavam em operação. O crime foi uma retaliação ao trabalho dos policiais na região e demonstra o risco de vida enfrentado nos postos. O envolvido no caso é um criminoso bastante conhecido, que atua na região de Guaíra.

A reportagem tentou, insistentemente, durante toda a semana, contato com a Superintendência da PRF, em Curitiba. As ligações à Comunicação Social não foram atendidas. Também houve tentativa, por meio da Corregedoria. O Paraná deixou recado, mas não obteve retorno até a publicação da reportagem.
BR-277, tráfico e contrabando 

De Cascavel até Foz do Iguaçu são apenas três postos da PRF (Cascavel, Céu Azul e Santa Terezinha de Itaipu). As estruturas antigas também não possuem sistema de blindagem, nem carceragem apropriada, mesmo com a intensa atuação dos inspetores de tráfego, em virtude do movimento intenso. Por dia, mais de dez mil veículos chegam a passar pelo trecho de Cascavel até Foz. A BR-277 é um corredor usado com bastante frequência pelos traficantes e contrabandistas. Apesar da fiscalização intensa, boa parte dos produtos, cigarros e drogas paraguaios que chega em todo o País passa pela BR-277, em veículos preparados para o transporte. São caminhões e carros adaptados, com batedores e sistema avançado, como radiocomunicadores. Um projeto para construção de um novo posto em Santa Terezinha de Itaipu está em discussão, mas ainda não há nada confirmado.

POSTOS ULTRAPASSADOS

Um levantamento interno foi feito pelo Sindprf (Sindicato dos Policiais Rodoviários Federais) e apontou os principais problemas com postos no Paraná. Apesar de não divulgar o relatório, por medidas de segurança, a categoria alerta a precariedade das estruturas. “Elas não comportam o trabalho dos policias. Nossos postos não possuem sequer lugar adequado para deixar a pessoa detida, até que seja repassada aos locais definitivos. Também há dificuldades relacionadas a informática e atendimento ao público”, afirma Paulo Mileski, vice-presidente do Sindprf.



Com presídio, Catanduvas é exemplo ao País

Um dos postos mais modernos do País da PRF fica em Catanduvas, Oeste do Estado. A construção só foi viabilizada com o Presídio de Segurança Máxima instalado na cidade. O posto fica na BR-277, na rodovia de acesso ao município. O prédio conta com área para detenção e vidros blindados para proteger os policiais de plantão. 

Indenização de fronteira é cobrada por servidores

Cascavel - A insegurança leva servidores públicos federais a buscar a remoção da região de fronteira. A rotatividade de profissionais é grande no Oeste do Paraná. “É muito complicado fixar um servidor, na região de fronteira. Os servidores não encontram instituições de ensino apropriadas e o volume de trabalho é bem maior. Por isso, a maioria prefere os grandes centros”, diz Paulo Mileski, vice-presidente Sinprf (Sindicato dos Policiais Rodoviários Federais).

Pela legislação aprovada no ano passado, os servidores em exercício nas unidades situadas em localidades estratégicas vinculadas à prevenção, controle, fiscalização e repressão dos delitos transfronteiriços possuem direito a uma indenização. Embora esteja em vigor, o valor não é repassado. “A medida contempla uma ajuda indenizatória. A lei compensaria o grande volume de trabalho diário dos servidores, nas regiões de fronteira”.

Uma mobilização nacional conjunta está prevista para quarta-feira, em favor da regulamentação e implementação imediata da indenização de fronteira, prevista na Lei 12.855/13. Além dos policiais rodoviários federais também participarão analistas tributários, policiais federais e auditores fiscais. No Paraná, a mobilização ocorre nas delegacias de Guaíra, Foz do Iguaçu e Cascavel.

Pelo regulamento interno, os servidores federais devem permanecer três anos no território estipulado. Porém, muitos pedem remoção na Justiça. O prejuízo fica para a corporação e para o trabalho de repressão ao crime organizado na região de fronteira. “Os policiais experientes deixam a fronteira. O órgão perde e a sociedade também. Quem tem mais experiência conhece os crimes de fronteira com maior profundidade, como tráfico de drogas e de pessoas, armas e evasões de divisas. Mas os servidores recorrem a pedidos administrativos para deixar a área, que é muito mais perigosa”, argumenta Mileski.

50% de defasagem

Foz do Iguaçu - A defasagem de contingente é um agravante enfrentado na área de fronteira. Em todo o Paraná é preciso contratar mais 50% de todo o efetivo para resolver a falta de servidores da PRF. A mesma média equivale ao território nacional.

A expectativa é que essa defasagem seja amenizada, após a convocação dos aprovados no último concurso, realizado no ano passado. O curso de formação para os candidatos ao cargo de agente, função de ingresso na corporação, começou na semana passada na Anprf (Academia Nacional da Polícia Rodoviária Federal), em Florianópolis, Santa Catarina. São mil alunos participantes, que em breve atuarão na PRF. O preparo tem duração de três meses. Uma segunda leva de aprovados aguarda o chamamento, ainda antes da Copa do Mundo. 

Fonte: O Paraná

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